História da ARI
História
Fundada em 1942 por imigrantes alemães fugidos da perseguição nazista, a ARI foi a primeira sinagoga liberal do Rio de Janeiro. A sede inicial, na rua Martins Ferreira, em Botafogo, povoa o imaginário dos descendentes dos seus fundadores. Sob a liderança do rabino Henrique Lemle, a sinagoga herdou uma rica tradição musical trazida da Alemanha, de serviços acompanhados por coro e órgão.
- Primeira sede da ARI, na rua Martins Ferreira, em Botafogo
- O desenho original da primeira sinagoga por dentro
- Foto da primeira sinagoga da ARI por dentro
- Ata de fundação da ARI
- Ata de fundação da ARI (pag. 2)
- Rabino Henrique Lemle, um dos fundadores da ARI
- Fundadores da ARI. De pé: Alfred Goldberg, José Israel, Artur Isaac, Siegfried Rothschild, Max Kaiser. Sentados: Eduardo Levy, Henrique Lemle, Siegfried Elias.
- Fundadores e primeiros sócios
A nova ARI
Construída na rua General Severiano, a nova sede ARI é um projeto de 1958 dos arquitetos Henrique Mindlin e Giancarlo Palanti, e chama atenção pela grandiosidade, os vitrais coloridos e a curvatura da cobertura de cabo de aço, que evoca as tendas das tribos judaicas descendentes de Abrahão. O obra ficou pronta e foi inaugurada em 1962.
A bimá (armário da Torá) e o mobiliário da sede da Martins Ferreira foram transferidos para a nova sede na rua General Severiano e constituem hoje a “Sinagoga da Memória”. Trata-se de uma réplica da sinagoga original localizada nos fundos da sinagoga principal atual. Lá são realizadas pequenas cerimônias e eventos ligados à memória.
- Bat Mitzvah coletivo em 1951, na sede do Clube Botafogo
- Pessach – seder coletivo de 1950 e 1953
- A nova ARI nos anos 1970
O drama judaico
Heinrich (Henrique) Lemle era um jovem rabino em Frankfurt, Alemanha, quando, em 1938, depois da violenta “noite de cristal” (kristallnacht), foi levado pelos nazistas para o campo de concentração de Buchenwald. Foi libertado três semanas depois por intervenção de Lady Lily Montagu, da World Union for Progressive Judaism (WUPJ), que providenciou-lhe um contrato de trabalho para ser rabino na Inglaterra, onde foi colaborador da Woburn House e da West Central Liberal Synagogue, em Londres, de 1939 a 1940, e rabino na Congregação Liberal de Brighton and Hove em 1940. Também na Inglaterra foi preso, desta vez como enemy alien (inimigo estrangeiro) na Ilha de Man, por ser alemão. Em dezembro de 1940, a família pegou um navio para o Brasil, enviado pela WUPJ para liderar uma recém-nascida congregação de imigrantes judeus europeus, a maioria alemães. Foram acolhidos pelos que aqui já estavam.
Receber os imigrantes com carinho era fundamental. Todos tinham perdido familiares e amigos próximos para a brutalidade nazista.
Lemle perdeu os pais, os sogros – que eram seus tios -, muitos primos, amigos e uma congregação inteira em Frankfurt. Ainda assim, o rabino almejava por respeito pela vida humana, como escreveu em seu primeiro livro lançado em português, em solo brasileiro, e que continua surpreendentemente atual:
“O mundo futuro, cuja conquista está custando a todos os povos tão alto preço em vidas, não valerá os sacrifícios feitos para alcançá-lo se não houver nele melhor entendimento entre os homens. O apavorante incêndio que nos nossos dias devora grande parte da humanidade tem sido alimentado pelo erro, pelo preconceito, pelo ódio. Para evitar a repetição dessas catástrofes no futuro, será necessário que todo ser humano veja em cada um dos outros um irmão.” (Henrique Lemle, trecho da introdução de “O Drama Judaico”, 1944, editora Dois Mundos).
No mesmo livro, ele dedica todo um capítulo à vida e à morte do escritor judeu alemão Stefan Zweig, a quem enterrou, junto com sua esposa, num cemitério em Petrópolis, em 1942.
- Capa de ‘O Drama Judaico’, primeiro livro do rabino Henrique Lemle em português (Rio de Janeiro, 1944, ed. Dois Mundos)
- Sumário do livro. Clique para aumentar.
Leia mais sobre o rabino Henrique Lemle.
ARI Setor Norte

Sócios da ARI Setor Norte
Nem todos os sócios da ARI moravam na Zona Sul do Rio. Um grupo de moradores dos subúrbios, na impossibilidade de atender às atividades na primeira sede em Botafogo, reunia-se, sob a liderança do rabino Ruebner, nas casas dos sócios.
Quando o Estado de Israel foi fundado, o casal Ruebner se mudou para lá. O grupo continuou se encontrando para comemorar todas as festas do calendário judaico, para as quais o rabino Lemle enviava uma prédica a ser lida. Também era sempre realizado o serviço religioso de Erev Shabat, nas sextas, dirigido por um dos participantes. Em Rosh Hashaná e Yom Kipur, a ARI providenciava um chazan (cantor litúrgico).
“Mas os anos passaram voando, mais e mais os amigos do Setor Norte se mudaram para a Zona Sul, o melhoramento da condução possibilitou a maior participação na sede da ARI, perdemos grande parte dos sócios mais velhos, e finalmente chegou o dia quando fiz o discurso de despedida e dissolução do Setor Norte na sinagoga da Rua Figueira e levamos os dois rolos da Torá para a ARI”, contou Kurt Hahn em entrevista para o livro ARI 40 anos.
Infância e juventude
Desde os tempos do rabino Lemle, a importância da infância e da juventude para a construção de um judaísmo condizente com a contemporaneidade foi uma preocupação da ARI. Daí a formação do Beit ha Sefer e do Gan Sameach (“Escolinha” e “Jardim de Infância”, em livre tradução), destinados às crianças, para terem seu primeiro letramento em assuntos judaicos, e de grupos de jovens, que ao longo das gerações tiveram vários nomes e formações diferentes: Hashmonaim, Macabim, Gruja, Derech, Colônia da ARI, entre outros.
Também cabe ressaltar a importância do movimento juvenil (tnuá) Chazit, ligada à ARI desde os seus primórdios. Conheça a Chazit!
A ARI ao longo dos anos
Antes denominada liberal, hoje reformista, a ARI é uma sinagoga igualitária que associa as tradições ashkenazi e sefaradi e caracteriza-se pela modernização da vida judaica.
Também temos uma longa tradição de promover a integração da comunidade judaica com a sociedade local, através de eventos culturais e da construção de pontes, incluindo a aproximação com outras religiões, como a iniciativa pioneira da Fraternidade Cristã-Judaica, iniciada pelo rabino Lemle, e, a partir dela, o desenvolvimento do Diálogo Inter-Religioso.
Em 2012, a ARI publicou a revista ARI 70, com a história ilustrada da ARI desde os primórdios da congregação, na década de 1930. Baixe o arquivo PDF da ARI 70.
CIM – Comissão de Identidade e Memória
A Comissão de Identidade e Memória da ARI (CIM) está empenhada no levantamento de documentos e fotografias, no registro de depoimentos e na preservação de objetos de culto e uso na sinagoga.
Um exemplo de trabalho da CIM é a playlist Baú da Memória, uma coleção de vídeos no YouTube.
No Baú da Memória, o visitante encontra vídeos sobre o acervo da sinagoga, sua história musical, vários depoimentos de amigos brasileiros em Israel, o Lar União, anúncios e jingles nos boletins da ARI e um vídeo sobre a data de 10 de maio de 1933. Confira!
Fontes: CIM/ARI, livro ARI 40 anos, Marina Lemle, Michel Mekler, Noemi Brotzen Varsano e Heritage and History















